...Não sei, sinceramente, qual dos dois ficou mais surpreso por ver o outro (eu que pensava que seria impossível alguém voltar a surpreender-me, mais uma vez subestimei-a). Olho para os seus olhos castanhos e cabelos negros e para as suas feições perfeitas naquele vestido perfeito, enquanto ela olha para uma cara muito mais pálida do que aquela que conheceu.
- John? Estás vivo? - Pergunta ela.
Eu apenas sorrio devido à ironia da pergunta.
- Pensei que nunca mais te iria ver, desapareceste sem deixar rasto.
- Passei por uns momentos complicados – respondo eu.
- Senti muito a tua falta, não sabes o que passei John.
- Eu sei, eu também sofri, desculpa.
- Mas estás doente? Não estás com um ar muito saudável.
- Nunca me senti tão bem em toda a minha vida. – Volto a sorrir.
- Mas que…
- Ssshhhh, deixa-me falar, acalma-te, vim para te buscar.
- Buscar? Mas para onde? Estás a falar de quê?
- Algo aconteceu-me nestes tempos que estive ausente, eu mudei.
- Mudaste? Não percebo John.
- Mudei, perdi algumas coisas mas ganhei outras, preciso que estejas calma e ouças o que tenho para te dizer por mais estranho que pareça.
- Acho que estás a gozar comigo, mas nunca te vi tão sério e com esse olhar.
- Não estou a gozar, algo me aconteceu que alterou o meu ser, já não suporto a luz do sol por exemplo mas sinto-me cada vez mais forte e mais rápido.
- Bem, daqui a pouco estás a dizer-me que andas por aí à noite a morder pescoços – Ao dizer isto sorriu nervosamente e ao notar o meu silêncio e o meu olhar sério o seu belo sorriso desapareceu. E disse:
- Só podes estar mesmo a gozar comigo, diz-me que não é verdade, diz-me que é uma brincadeira.
- Não, não é brincadeira, podes acreditar, eu …
- John! Afasta-te de mim, afasta-te de mim por favor ou grito!
- Achas que terias tempo de gritar? – E ao dizer isto encostei-me a ela, empurrei-a contra a parede e passei a minha mão pelos seus cabelos molhados e pela sua pele suave como seda e disse:
- Vim buscar-te, juntos seremos senhores desta ou de outra cidade qualquer ou se quiseres de nenhuma cidade e passaremos o resto da eternidade a andar pelo mundo, nada nem ninguém nos pode parar, quero que sejas como eu e quero que sejas minha, eu amo-te.
Ao ouvir isto ela abriu ainda mais os olhos como se o seu cérebro estivesse a processar a informação que acabou de receber. Eu continuei:
- Sei que me amas também, vê só, podemos ficar juntos para sempre.
Agora um pouco mais calma respondeu:
- Não sei, apareces assim do nada depois deste tempo todo e pedes um grande sacrifício da minha parte mas por outro lado sinto-me atraída por uma força qualquer que emana de ti. Estou confusa, muito confusa.
- Confusa? Não estás a ver a dádiva que te estou a dar? A vida eterna não é suficiente para te tirar as confusões? Já tens muita sorte por poderes escolher.
- John, eu, eu…
Neste momento beijei os seus lábios vermelhos, enquanto a minha mão direita acariciava a sua face e a esquerda suavemente deslizava pelo seu corpo húmido da chuva. O corpo dela respondeu afirmativamente ao meu beijo e puxou-me para ela. Eu parei e disse – Aqui não, vamos para tua casa.
Ela assentiu com a cabeça e fomos.
Fomos rua abaixo agarrados e uns minutos depois de caminhar em silêncio, chegámos ao seu apartamento, ela sacou das chaves e abriu a porta, uma vez lá dentro, agarrei-a de novo e entregámo-nos num beijo ainda mais intenso que o primeiro. Só por acaso conseguimos fechar a porta atrás de nós. Ficámos em pé na sala junto ao sofá, livrámo-nos das roupas molhadas, os nosso olhares trocaram-se e começámos a acariciar-nos mutuamente, comecei por passar as minhas mãos pelo seu cabelo enquanto os nossos lábios se tocavam. Explorámos intensamente o corpo um do outro com mãos, lábios e línguas.
Foi então que os meus lábios passaram pelo seu pescoço e quando dei por mim já percorria toda aquela zona tão desejada por mim.
A excitação era demais, os meus olhos ficaram de um vermelho cor de fogo e os meus caninos cresceram, comecei por enterrá-los gentilmente na sua pele ruborizada, ela deixou escapar um “Não”, mas já era tarde demais, eu já sentia o sangue dela nos meus lábios e na minha língua, era impossível parar, espetei ainda mais as minhas presas e o “Não” dela deu lugar a um leve gemido, estava a entrar em êxtase enquanto a vida dela se ia esvaindo lentamente, mas não podia beber muito mais aquele suco ou corria o risco de a matar. Deitei-a confortavelmente no sofá e com uma das minhas unhas fiz um corte no meu peito, baixei-me e deixei cair algumas gotas de sangue nos seus lábios que estavam já a ficar roxos. Uma, duas, três gotas e subitamente ela começou a movimentar-se por instinto à procura da fonte daquele prazer vermelho, eu baixei-me ainda mais e os seus lábios encontraram o corte na minha carne, ela abriu os olhos e ficou surpresa com o que estava a acontecer, mas a sede era mais forte e os seus caninos recém desenvolvidos cravaram-se no meu peito com toda a força. É impossível descrever o que senti naquele momento, nunca a mistura entre prazer e dor fora tão intensa, ela agarrava-me e desejava o meu sangue com tanta força que dum momento para o outro já estávamos em pé e as suas unhas feriam as minhas costas.
Tive que fazê-la parar porque agora era eu que corria o risco de ser morto, afastei-a com muita dificuldade porque ela começava a ficar mais forte que eu. Consegui devolvê-la ao sofá enquanto eu próprio caía enfraquecido sobre o tapete que decorava a sala. Olhei para ela e ainda fui a tempo de ver os seus olhos mudarem de castanho para verde, a transformação estava completa. Nesse momento veio-me ao pensamento uma música dos Moonspell que diz “she will kill, my child kills”.
Criei uma assassina, um monstro, a minha missão está cumprida.
Ela levantou-se, limpou o sangue que lhe escorria da boca com um movimento do braço e disse, com uma voz digna de um demónio:
- Quero mais…
- Vamos meu amor, vamos saciar a tua sede, a noite é nossa.
Estou no meio da rua, viro a cabeça para a esquerda…ninguém. E para a direita...vejo-a ao meu lado. Esta noite não caçarei sozinho.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário