sábado, abril 29, 2006

Conto (Parte II)

...Continuo a persegui-lo num completo silêncio, passamos pela Paleisstraat e seguimos até à Rozenstraat, um pouco depois a minha oportunidade começa a surgir, ele está a virar para uma rua estreita e escura.
É agora, estamos numa rua cujos candeeiros estão apagados, a escuridão é sempre uma boa aliada. Aproximo-me dele de maneira a que a minha presença seja notada, ao ouvir os meus passos a ovelha olha para trás e a cara de espanto que faz ao ver-me faz-me adorar ser o que sou, deve estar a perguntar-se a si mesmo como é que só me ouviu quando já estou assim tão próximo. Peço-lhe lume quando nem cigarros tenho, e ele apalpa os bolsos à procura do isqueiro que não quero, ao fazer isto desvia o olhar para si mesmo e para os seus bolsos. Chegou o momento, com um movimento rápido e vigoroso ponho-lhe uma mão no ombro direito e outra no pescoço, os meus olhos ficam vermelhos de excitação e a cara da ovelha é o sinónimo de medo e espanto. Os meus dentes aguçados aproximam-se do seu pescoço num milésimo de segundo e antes que ele possa gritar são cravados. Aaahh, sinto o seu coração bater, sinto o seu sangue quente a entrar em mim, sinto-me cada vez mais forte enquanto a minha vítima vai perdendo aquilo a que chama de vida. Fico agarrado a ele nesta estranha dança ainda alguns segundos. Começo a ficar satisfeito e resolvo parar, a gula não é definitivamente o meu pecado favorito e a noite ainda agora começou.
No momento que o largo sinto toda a força do seu sangue a percorrer o meu corpo pálido, isto é o mais próximo de um orgasmo que posso ter.
Mais um que vai ser famoso, amanha aparecerás nas notícias ovelha. Nem vou livrar-me do corpo, hoje não me apetece, vou deixar um presente para a Polícia poder fazer as teorias sobre o novo assassino na cidade. Faço isto porque sei que nunca me apanharão, nunca me apanharão.


Ando pelas ruas durante uma boa meia hora ainda a saborear o fluído cor de rubi que me percorre as veias. Mas agora que saciei a minha fome posso concentrar-me no meu objectivo, encontrá-la. Só há um sítio onde ela possa estar a estas horas, uma discoteca na Wagenstraat e mais uma vez, antes mesmo de pensar nisso já dou por mim em movimento. No caminho penso nos bons momentos que passámos, na reacção que ela irá ter quando me vir e como será cravar os dentes naquele pescoço perfeito, calma John tens que estar concentrado.
Ao aproximar-me da discoteca vejo a sorte que tenho, hoje há uma festa gótica, vou passar bem despercebido. Avanço para a porta e quando o segurança está pronto para me pedir dinheiro olho para ele duma maneira que nunca ninguém olhou para ele, e sou convidado a entrar.
Entro e a batida dos Depeche Mode invade logo o meu corpo, dou uma vista de olhos pelo local e sinto-me empurrado pela voz do Dave para a pista. Danço, mas só durante alguns minutos, porque tenho um objectivo, tenho que procurá-la.
Dou uma volta pela discoteca e olhando para o rebanho presente, sei que se não a encontrar, vou-me alimentar mais uma vez esta noite. Quando começo a perder a minha esperança e viro-me para a saída, uma onda de nervosismo que se assemelha a um murro no estômago apossasse-se de mim, ela está a entrar, ela afinal veio e traz aquele vestido que adoro, é preto, desce até aos joelhos e é justo, deixando adivinhar as formas daquele corpo que já foi meu em algumas noites não muito distantes. Escondo-me nas sombras e fico a observá-la, está sozinha e meia dúzia de gajos já estão a olhar para ela. Decido manter-me escondido e só avançar quando ela sair, aí sim a abordarei. Mas para já tenho que aguentar a raiva que tenho daquelas ovelhas a olhar para ela, matava-os a todos, não por necessidade mas por prazer.
Passa 1 hora, passam 2 horas e ela dirige-se à saída, vai-se embora, começo também a movimentar-me. Já na rua sigo-a até chegarmos a um local calmo e resolvo aproximar-me, mas antes de chegar perto o suficiente, ela olha para trás e vê-me, como é possível? Como é que ela pode ter reparado?
...

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