sexta-feira, abril 28, 2006

Conto (Parte I)

Há uns tempos atrás num fim-de-semana de devaneio/loucura/inspiração/falta de vontade para estudar, escrevi um conto e como este me parece um bom local para plantá-lo, aqui está ele.Mas como ainda é um bocado longo para esta pagina decidi dividi-lo em partes,por isso aqui está a primeira.
Hope you like it.

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Amsterdão, 2001

Estou no meio da rua, viro a cabeça para a esquerda… ninguém. E para a direita… ninguém. Mais uma noite sozinho.
As ruas só cheiram a alcóol e erva a estas horas, ou pelo menos penso eu que assim seja. Desde que me transformaram naquilo que sou, nunca mais consegui sentir cheiros nem saborear o que quer que seja. Tenho inveja das ovelhas que conseguem saborear um charro.
Enfim, mas nem tudo é mau nesta maldição (como alguns lhe chamam), a morte foi uma bênção na minha vida, porque não foi bem uma morte foi quase um renascer, um renascer que me trouxe poderes que eu não sabia que existiam.


Começou a chover, não torrencialmente mas apenas uns pingos espaçados. Que bom que é, ainda conseguir sentir a chuva a tocar no meu rosto e a deslizar por ele abaixo, este toque suave faz-me lembrar o toque dela, o toque suave dos seus dedos e dos seus cabelos na minha face e no meu corpo. E a lembrança dela acorda-me para a minha missão: encontrá-la e transformá-la em algo como eu.
Mas para já a missão vai ter que esperar, vejo uma ovelha a sair de um coffeeshop, odeio as ovelhas que conseguem saborear um charro. Está na hora de ir trabalhar John, penso para mim mesmo, e antes mesmo de o pensar já as minhas veias se exaltam com a antecipação do ouro vermelho que está para chegar e todo o meu corpo se movimenta como um predador. Sigo a ovelha, escondido nas sombras, é um homem que deve rondar os 30 anos, usa calças de ganga e uma camisa. Indiferente à chuva, continua na sua viagem a pensar que a sua noite acabou, mas o que está prestes a acabar para ele é algo mais.
Sinto-me cada vez mais ansioso, todas as ovelhas de que me alimento parecem sempre a primeira. Mas tenho que refrear a ansiedade, não me posso dar ao luxo de matar numa rua iluminada. A paciência é que faz um bom predador, foi o que aprendi com as minhas caçadas e com os documentários do National Geographic.
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