quinta-feira, novembro 16, 2006

Era uma manhã

Era uma manhã como outra qualquer, de uma semana como tantas outras, para uma pessoa das mais comuns, uma pessoa daquelas que chegam a passar despercebidas na rua.

Mas, talvez essa pessoa não fosse assim tão comum. Nem a manhã em causa fosse assim tão normal, talvez porque chovia, e o líquido que caía dos céus, deixava as pessoas tão espantadas, como molhadas. "A chover em Novembro?" perguntavam entre saltos sobre poças. "Ainda ontem estava sol." continuavam, enquanto tentavam desviar-se das ondas lançadas pelos automóveis que passavam em excesso de velocidade.
Estes dias cinzentos - pensou a tal pessoa que não sabia se era normal ou não - mexem sempre com o estado de espírito das pessoas. Mas o importante é que, anda tudo numa pressa tão grande de ir trabalhar, de ir pôr os putos ao infantário, de ir a nenhum lado, de fazer tudo e de não fazer nada, que já muito pouca gente perde uns segundos para apreciar um dia assim.
É por ter pensamentos assim, que não sei se sou assim tão comum - continuava a reflectir a pessoa que já pensava que afinal não seria assim tão normal - de certeza que há mais alguém como eu, de certeza que alguém partilhará comigo, a beleza de ver as gotas da chuva, empurradas pelo vento, a juntarem-se numa coreografia, que quase parece ensaiada, no vidro do autocarro, enquanto o Molko e os seus Placebo, debitam palavras e notas daquele Meds nos nossos ouvidos. E será que mais alguém tem noção de como sabe bem, levantar a cabeça para o céu, com os olhos fechados e sentir as gotas a acertarem no rosto, enquanto o Bellamy canta histórias sobre buracos negros e revelações?

Afinal, era uma manhã diferente de todas as outras, para uma pessoa que não é das mais comuns.

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